De Templo Para CORPO
Quando eu mergulhei na experiência com o Refúgio do Rock em 1993 e tive que responder às críticas que começaram a surgir (de profanar o espaço sagrado), comecei a fortalecer o conceito neo-testamentário de Corpo. É intessante como há uma diferença entre o VT e o NT quando se trata de local de adoração, santuário, templo, etc. No VT, haviam locais fixos e apropriados para se adorar e prestar culto a Deus. Esse inclusive foi um dos temas da conversa entre a mulher samaritana e Jesus em João 4. Ela acreditava que Deus devia ser adorado em um local geográfico definido. Jesus disse que Deus poderia ser adorado em qualquer lugar, desde que essa adoração fosse sincera e verdadeira. No NT, o cristão é o templo, o santuário, o lugar onde Deus habita. A Igreja é chamada de Corpo de Cristo. E Igreja são pessoas, e não um edifício, uma construção. Por meio de pessoas que renderam suas vidas ao Seu Senhorio, Cristo continua vivo e presente no mundo hoje. Onde quer que essas pessoas vão em nome de Cristo, lá Ele está. Isso tem implicações imensas em nossas vidas. Se Cristo vive em mim (para isso eu preciso tomar a cruz diariamente e morrer para mim mesmo), então Ele está presente através de mim (meu corpo é seu santuário) e toca as pessoas por meio de minhas mãos, abraça-as com meu abraço, ouve-as com meus ouvidos, fala com elas por minha boca… Quanta responsabilidade é dizer-se cristão! Hoje eu estava lendo as palavras do Arcebispo Oscar Romero, de sua homília de 27 de janeiro de 1980, dois meses antes de ter sido assassinado:“Eu repito o que já disse a vocês antes quando temíamos perder nossa estação de rádio: o melhor microfone de Deus é Cristo, e o melhor microfone de Cristo é a igreja, e a igreja são todos vocês. Que cada um de vocês, em seu próprio trabalho, em sua vocação (…), cada um em seu próprio lugar viva a fé intensamente e sinta que em seu ambiente você é um verdadeiro microfone de Deus nosso Senhor.” A igreja são todos vocês. Essa convicção é ensinada e vivida no Projeto 242 hoje, ainda que de uma forma bem aquém do que sonhamos. É por isso que transformamos o espaço onde nos reunimos para ser um local que nada lembra um templo ou igreja. Porque o templo é nosso corpo e a igreja somos nós, as pessoas, que se reunem naquele local. É por isso que recebemos artistas não cristãos para apresentar seu trabalho em nosso espaço, sem medo de “profanar o altar”. Porque o altar são nossas vidas e corações rendidos ao Senhor. Isso não tem nada a ver com querer ser emergente; tem tudo a ver com querer viver como discípulos de Cristo, chamados para carregar a cruz, morrendo diariamente para o ego e permitindo que Jesus viva através de nossas vidas.