Ovelhas em Perigo
Alguns anos atrás, Jaime Kemp escreveu dois livros com os títulos “Pastores em Perigo” e “Pastores Ainda em Perigo”. Nestes livros, ele abordava uma série de perigos no exercício no ministério pastoral, dentre eles o orgulho, a incapacidade de equilibrar o tempo entre família e igreja, e a facilidade para se envolver em casos extra-conjugais. Recentemente me perguntaram se eu achava que pastores (e líderes espirituais cristãos) precisam ter formação teológica. Creio que sim, e creio que a crescente falta de formação teológica na liderança espiritual de muitas igrejas no Brasil é (pelo menos em parte) responsável pela deformidade do Evangelho que vemos sendo pregado e seguido ao nosso redor.
Se você precisar de um advogado, acho que não irá buscar alguém que não estudou Direito para defender sua causa. Se precisar de um médico, creio que não irá confiar sua vida (ou de seus filhos) a alguém que não estudou Medicina para examiná-lo e prescrever-lhe um medicamento ou fazer algum procedimento cirúrgico em você. E se estivesse à bordo de um avião e, antes da decolagem, descobrisse que o piloto é gente boa, amigável, bom de papo, carismático, mas não frequentou nenhuma escola de aviação e nunca tirou um avião do solo antes, tenho quase certeza de que você não aceitaria viajar com ele. Tudo isso parece óbvio. No entanto, quando se trata de assuntos espirituais e, mais precisamente, de receber diretrizes para a vida cristã, parece que muita gente acha que não tem problema se a pessoa não sabe muito do que está falando (desde que fale alto e seja convincente).
Acredito que é preciso resgatar a convicção de chamado pastoral (ou vocação ministerial). Ser pastor não é uma profissão, como expressou muito bem John Piper em seu livro Brothers, We Are Not Professionals. Ser pastor, não é algo que qualquer pessoa possa ou deva fazer (como muitos dos que estão advogando um retorno da igreja ao cristianismo apostólico erroneamente pensam). Ser pastor é ser chamado por Deus para servir à Sua Igreja com integridade, pureza, humildade, no poder do Espírito e manejando bem a Palavra da verdade. Ser pastor é amar as pessoas mais do que os aplausos (ou as recompensas terrenas), é ser capaz de falar a verdade em amor, sabendo que nem sempre isso o tornará popular e querido. Basta ler com atenção o Novo Testamento para ver que nem todos eram pastores, nem todos eram mestres. De fato, há uma advertência com relação a isso em Tiago 3.1, onde é dito que aqueles que ensinam serão julgados com maior rigor.
Por estas e outras, acredito que pastores devem possuir algum tipo de educação teológica (pode ser formal ou informal, mas o fato é, precisam conhecer bem a Bíblia, o desenvolvimento da doutrina cristã, as principais correntes teológicas, a história da Igreja, etc.). Isso não é tudo, mas é o começo de qualquer ministério pastoral sério. Negligenciar isso representa um grande risco para a saúde espiritual e é semelhante a embarcar em uma viagem com destino fatal.
Tenho visto tantas pessoas se aventurando a serem chamadas de pastores (e se apegando ao título com unhas e dentes) e tantas outras que estão seguindo estas com ingênua sinceridade, que talvez seja o momento de alguém escrever sobre as “Ovelhas em Perigo”…
Rev. Baggio